A verdadeira vida é espiritual, visto que todos são espíritos, embora encarnados, enquanto que a matéria é ilusória, passageira, de duração relativamente efêmera e de valor secundário. — Luiz de Souza

A imprensa - Por Luiz de Souza

A imprensa reflete o estado de sanidade de uma coletividade. O povo será são, moralmente, se a imprensa for limpa, sadia, construtiva e arejada. Ao contrário, se o povo, especialmente o pensante, o intelectualmente desenvolvido, prima pela falta de caráter, de decência, de honestidade, a imprensa que o representa se revela pelas características apontadas.

É doloroso constatar se que, entre labutantes da imprensa, alguns rebaixem as suas elevadas funções para se entregarem à faina comercialista e inglória de enriquecer à custa da desonra, da intriga, da falsidade, da exploração, da calúnia, dos golpes aventureiros, da extorsão e da corrupção dos costumes implantados pela moral cristã.

Jornalistas espúrios, sem qualificativo abonador, acuados pela necessidade de pão para o seu sustento, encontram guarida em certa imprensa, para transudar fluido maligno, acumulado na alma desprovida dos mais elementares conhecimentos de ordem espiritual.


O jornalismo ainda é profissão mal compreendida. Falta lhe, em muitos casos, a Escola de Princípios para valorizar a classe. Fazer jornalismo, não é atacar, ofender, denegrir, apunhalar com a pena de escrever, mas pugnar pela verdade, com espírito sereno e construtivo; é animar e incentivar iniciativas progressistas; é esclarecer e ensinar; é revelar a evolução das artes e ciências; é discutir problemas com a finalidade de solucioná los em favor do bem comum; é pôr a humanidade a par daquilo que com ela ocorre, e com o que deve solidarizar se para fins altruísticos.

Não é possível desvirtuar a imprensa dessa diretriz, sem que os responsáveis intencionais tenham de sofrer os conseqüentes rudes golpes da adversidade. A implacável lei de causa e efeito não pode ser alterada pelos homens e nem mesmo pela Inteligência Universal, detentora da Consciência Absoluta.

Nada vale ir à igreja rezar, orar e ouvir missa, para depois, sem qualquer sentimento espiritualista, revelar se, na luta pela vida, o mais indigno dos infiéis, ao servir se da pena para, de público, pela imprensa, forjar inimigos, insultá-los, acirrá-los, neles estimulando sentimentos inferiores de ódio e vingança!

Numerosos crimes têm origem na imprensa sensacionalista e desclassificada, por falta clamorosa de dirigentes de fundo moral apurado que conheçam um pouco mais do que a cartilha das relações sociais.

Oxalá a massa humana que se diz religiosa e dispõe de proporcional representação na imprensa viciada nos mais reprováveis manejos, pudesse ver um pouco além dos seus reduzidos horizontes do plano espiritual, para que a sua representação não se portasse de maneira tão condenável!

Nota se uma verdadeira indiferença pelas coisas do espírito, como se todos os habitantes da Terra não fossem realmente espíritos, em essência, acima de qualquer outra expressão. O que se procura, de um modo geral, e como se isso fosse tudo, é a satisfação oferecida pelas quiméricas emoções terrenas, que pouco ou nada significam na orquestração universal.

Negando a evolução, as religiões não evoluem e conservam um deplorável estado primitivo de concepções materialistas. Não fosse Jesus o maior evolucionista de todos os tempos, estariam as religiões ainda escravizadas aos ensinos de Moisés:   "olho por olho, dente por dente".

Quanto mais ao pé da letra quiserem os religiosos interpretar os textos, por eles denominados sagrados, tanto mais se afundam no mar das confusões, do que dão, largo testemunho pelas numerosas seitas existentes, todas com fundamento nos mesmos textos. Essa confusão tem enfraquecido a autoridade religiosa e dado, como resultado, a periclitante convicção de que se pode ser religioso e ao mesmo tempo operar na imprensa despido de qualquer escrúpulo.

Esses deturpadores da ética profissional, esses criminosos da imprensa, ao serviço do mal, encontram, mediante preços ajustados, a tolerância da igreja, que os batiza, confessa, casa, crisma, abençoa e encomenda as suas almas pestilentas ao paraíso celeste! Tal benignidade e complacência os encoraja a piorar cada vez mais, os seus sentimentos para com o semelhante, servindo se da imprensa como meio eficaz de dar curso e expansão aos instintos animalizados que os dominam.

Se a turba de malfeitores da imprensa encontrasse, por parte das organizações religiosas, a repulsa que merece, certamente não vingaria nem prosperaria, como geralmente acontece. Infelizmente, no seio de tais organizações, fala muito alto o metal sonante da pecúnia, que aceitam sem reservas, sem se importarem com a origem. Venha de onde vier, é sempre bem vindo e melhor aceito.

Já se tem dito que a imprensa pode representar o quarto poder na vida de uma nação. E assim é, pois deveria, até mesmo, nortear a ação do Poder Executivo, oferecendo soluções práticas e patrióticas à atuação governamental e alertando a sua atenção para assuntos de imediata e imperativa execução; pode inspirar o Poder Legislativo a estudar anteprojetos de lei que facilitem a administração geral do país, para que entrem em uso medidas de maior oportunidade, em benefício da coletividade; pode corroborar com o Poder Judiciário por meio de jornalistas bacharéis em Direito que, peritos em questões jurídicas, muita luz poderão levar aos tribunais, apoiados nos seus conhecimentos, na sua inteligência e na sua capacidade de penetrar, com entendimento especializado, no âmago das teses disputadas.


Se algum jornalista da corrente dos religiosos materialistas tomar conhecimento destas palavras, não veja nelas senão um apelo, uma exortação, um anelo demonstrados, com sinceridade, com o objetivo elevado de unificar todos os profissionais da Imprensa sob uma mesma bandeira   a da lealdade, da fraternidade, da compreensão humana e da tolerância cristã.

Os erros corrigem se, doutrinariamente, mas não com golpes e lancetadas. Nunca se deve fazer uso da pena para atassalhar a honra alheia ou por espírito de vingança. Vale mais acumular tesouros com procedimentos dignos e humanitários, do que cavar abismos com baixezas e corrupções.

O mundo precisa ter a sua IMPRENSA com letra maiúscula, aquela que lhe dará sempre novas forças, novas energias e novas oportunidades. Para tal fim, nunca se deverá explorar as camadas humanas menos desenvolvidas, calcando as mais para baixo, nem satisfazer lhes os instintos inferiores com a apresentação de notícias, relatos e estampas que sugiram a prática do crime.

A imprensa destrutiva não se cansa de mostrar ao ladrão e ao assassino, ambos em potencial, através de noticiários contraproducentes e inescrupulosos, os meios mais eficientes de perpetrarem as suas delinquências.

As crianças abandonadas e as predispostas ao crime, também gostam de arquitetar planos semelhantes àqueles que os jornais ilustram com as mais vivas cores do escândalo.

Por aí se vê a falta que faz a apuração de valores morais para a composição de equipes da imprensa. O jornalista precisaria ser considerado tão respeitável, na hierarquia funcional, quanto um juiz íntegro, tal o conceito a que deveria fazer jus.

Cabe à imprensa ser defensora da boa causa e instrumento da verdade, a fim de que o seu comportamento se faça sentir na índole do povo, modificando a para melhor. É assim que a imprensa se precisa conduzir, para cumprir a sua elevada missão. Para isso é que ela foi criada. Os que nasceram para ser jornalistas e se desviam do bom caminho, são transviados conscientes da trajetória evolutiva.

Ninguém desceu à terra tomando a forma física, para ser um traidor, um vilão, um achacador, um vigarista, um injuriador ou portador de qualquer outro atributo negativo; muito menos se deveriam apresentar os militantes da imprensa como tipos dessa ordem, porque os que têm consciência da sua missão, sabem que o dever imposto é o de portar se com dignidade, honestamente, e com intransigente respeito ao semelhante.

O jornalista que se curva, vergonhosamente, ao suborno, o que explora a sua profissão extorquindo do próximo proveitos indecorosos, por meio de coação, é indivíduo que desce ao poço da lama, para impregnar a sua alma das manchas mais corrosivas.

É importante que saiba que tais manchas, gravadas no corpo etéreo, só poderão desaparecer na encarnação seguinte, ou em outras vidas futuras, pela abundante prática de ações meritórias, não isentas de sofrimento.

Desse modo, o jornalista que prefira manter se alheio à vida espiritual e aos seus deveres superiores, julgando se muito poderoso por poder servir se da pena para denegrir os seus desafetos, está, com isso, preparando um pesado infortúnio, em dias muito amargos que hão de vir.

Eis, pois, a falta que faz o esclarecimento aos homens da imprensa. Não é possível que sabedores da realidade do que lhes virá a suceder ao pretenderem saciar os seus instintos inferiores, por meio da pena, não abram os olhos, enquanto é tempo, e evitem encontrar se, no futuro, em deploráveis condições morais.

A imprensa
Por Luiz de Souza

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